quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

COM SOJA, BRASIL PODE ENTRAR NUMA "SINUCA" ECONÔMICA


Com base em estudos sobre o processo de “primarização da economia brasileira”, isto é, a opção preferencial pela produção de commodities (gado, minério e soja), falamos, no blogue, algumas vezes sobre os riscos dessa escolha.

Além dos fatores negativos que saltam aos olhos, como o enriquecimento de uma parcela pequena da população, já que a atividade gera poucos postos de trabalho formais se comparada à indústria; o imenso passivo ambiental, com áreas importantes para o bioma Cerrado destruídas, (pois o cultivo de soja ocorre principalmente no Centroeste) é preciso levar em conta a real possibilidade de ampla concorrência internacional desses produtos primários, fator que recentemente parece ter entrado na pauta após as declarações do presidente francês Emmanuel Macron, que afirmou que: “continuar dependendo da soja brasileira é endossar o desmatamento da Amazônia”, sinalizando que o país pode ser boicotado.

Apesar de Macron ter errado na conta, pois o percentual de soja produzida na Amazônia ainda é pequeno frente ao de outras regiões, importa nesse caso muito mais o conteúdo que a forma, já que, aparentemente, a declaração mostra uma possível vontade dos nossos compradores de, se não produzirem soja em seus territórios, ao menos de comprar com exclusividade de outros países, como dos Estados Unidos, segundo maior produtor do mundo.

Se for essa a intenção por trás da fala, há motivos para preocupação, já que a produção de commodities aparece solitária no horizonte de um país em franco processo de desindustrialização.     

Texto: André Vianello

Foto: site Revista Granja