terça-feira, 12 de julho de 2016

SÉRIE LOURENÇÃO: PEIXE SOME E PESCADORES DISPUTAM EM ALTAMIRA

Dona Luzia Cardoso conta que foi pressionada a sair do local.       Foto: RBA
Na matéria de hoje você acompanha o drama do reassentamento de moradores das áreas rural e urbana de Altamira, que tiveram que sair às pressas devido as obras ou por causa do enchimento do lago da hidrelétrica de Belo Monte. 

Já de cara,  problemas se deram na forma escolhida pela Norte Energia para indenizar os moradores atingidos.

O processo foi conduzido no melhor estilo "sai a cara do freguês", com valores extremamente assimétricos, já que foram negociados sem assessoria jurídica e diretamente com os atingidos, cujos chefes de família, eram em sua maioria analfabetos. 

Nesse contexto, não aceitar o valor oferecido pela Norte Energia, significava ter que litigar sem apoio de ninguém, contra uma empresa poderosa. Em muitos casos, a negociação foi feita a partir de carta de crédito, quando os próprios moradores teriam que sair em busca de lotes para posterior pagamento por parte da empresa. 

Os valores das indenizações desde o início foram insuficientes para a aquisição de novos imóveis pelos moradores, uma vez que com a chegada do canteiro de obras da usina, a especulação imobiliária inflacionou pesadamente o mercado. 

A mudança também trouxe outros prejuízos às populações atingidas, já que nos novos Reassentamentos Urbanos Coletivos (RUCs), não há serviços de transporte, saúde ou educação.

"BEIRADEIROS" E A ESCASSEZ DO PESCADO

Raimunda da Silva conta que saiu chorando do lugar onde vivia. Foto: RBA
Para os moradores da região da Volta Grande do Rio Xingu, outro local impactado pelas obras de Belo Monte, a situação é mais grave ainda. 

Muitos contam que foram pressionados pelos funcionários da Norte Energia a sair do local. Sem opções parte dos antigos moradores da zona rural do município de Altamira, se mudaram para as margens da cidade. 

Depois da mudança obrigatória, a sobrevivência de diversas famílias que dependiam essencialmente da pesca, ficou comprometida. Ha casos de ex- moradores do "Beiradão", que passaram a sofrer de depressão, como dona Raimunda da Silva, que saiu do local aos prantos.

O uso de explosivos nos tradicionais locais de pesca somado a potente iluminação vinda dos refletores das obras da usina afugentaram os peixes. Alguns recantos importantes para a pesca, simplesmente deixaram de existir, levando os pescadores a invadirem áreas de preservação ou disputarem, violentamente, os locais que restaram.

O Projeto Ciranda Verde mais uma vez alerta, que com base nas experiências adquiridas em outros tantos "grandes projetos", é possível afirmar que esse processo desastroso poderá se repetir em Marabá, que já sofre com o inchaço populacional e bolsões de pobreza resultantes da ondas migratórias que foram atraídas pelas promessas não cumpridas de Serra Pelada, Grande Carajás, Salobo, Alpa e outros engôdos políticos da região.

Texto: André Vianello
Fotos: Rede Brasil Atual
Dados: Dossiê Belo Monte/ Rede Brasil Atual
  
Projeto Ciranda Verde


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